
Amina e o rap
conexões de liderança e identidade
Por Isabela Rodrigues
Publicado em 25 de setembro de 2025
A história negra é marcada por vozes, lutas e símbolos que atravessam séculos.
Reinos poderosos, batalhas épicas e líderes visionários ultrapassam a ideia de um conto de fadas e o nome de Amina de Zazzau ocupa um lugar de destaque.

A Rainha Amina de Zazzau: nascimento, liderança e legado
A história da Rainha Amina, conhecida também como Aminatu, se passa no século XVI, na cidade-estado de Zazzau (atual Zaria), no norte da Nigéria. Nascida por volta de 1533, filha do rei Bakwa Turunku, Amina desde cedo foi treinada em estratégias militares e administração —habilidades raras para mulheres em seu tempo, o que já indicava seu destino fora do comum.
Após a morte de seu irmão Karama, cerca de 1576, Amina assumiu o trono de Zazzau. Durante seu longo reinado, que durou mais de três décadas, ela comandou campanhas militares, expandiu territórios e fortaleceu o comércio local. Sua liderança transformou a cidade-estado em um centro econômico e político mais estruturado e seguro.
Além das conquistas militares, Amina é lembrada por seu legado urbano e estratégico: construiu muros de defesa ao redor da cidade, fortaleceu rotas comerciais e introduziu medidas que beneficiaram a economia local. Seu fim é cercado de lendas, com relatos divergentes sobre o local de sua morte — mas seu legado permanece como símbolo de coragem e liderança feminina.

A música “Amina” de Tasha & Tracie: contexto, mensagem e significado
Em 10 de julho de 2025, a dupla de rappers Tasha & Tracie lançou o single “Amina”, trazendo à cena uma mensagem de empoderamento feminino, autoconfiança e identidade negra periférica. As irmãs cresceram em São Paulo, e sua trajetória pessoal de resistência e superação transparece nas letras e na estética de suas músicas.
Na canção, Tasha & Tracie celebram liderança e poder, rompendo com padrões sociais que tentam limitar mulheres negras. Versos como “Fiz história, tô sempre contando / Evoluindo, eles projetando, observando / O tempo tá passando, a regra clara: eu comando” reforçam esse paralelo simbólico com rainhas guerreiras como Amina de Zazzau.
O impacto da música vai além do áudio: o videoclipe, a presença digital e entrevistas reforçam a visibilidade das artistas. Para jovens que raramente se veem representados em mídias tradicionais ou não, “Amina” surge como exemplo de força, autoestima e ocupação de espaços, fortalecendo a narrativa de pertencimento e autonomia.

Conexões e herança simbólica
A Rainha Amina e a música “Amina” compartilham fios visíveis de ancestralidade.
A rainha representa liderança, coragem e visão estratégica em um período em que mulheres negras raramente eram reconhecidas como líderes. A canção de Tasha & Tracie retoma esses valores no presente, celebrando poder, autonomia e identidade, mostrando que a ancestralidade não é apenas passado, mas parte e presença no cotidiano.

Ambas também lidam com desafios: historiadores debatem certos feitos atribuídos à rainha, enquanto as artistas enfrentam críticas e estigmas relacionados a gênero, raça e origem. Em ambos os casos, a resistência fortalece a presença e reafirma a importância de se ocupar espaços historicamente negados.
Simbolicamente, a música transforma Amina de Zazzau em uma inspiração contemporânea. O nome “Amina” deixa de ser apenas histórico e se torna metáfora de força feminina, ancestralidade viva e poder no presente — uma ponte entre passado e agora, memória e ação.
Conclusão
A Rainha Amina desafiou convenções, liderou exércitos e construiu legados que atravessam séculos. Tasha & Tracie, no presente, ocupam palcos, criam histórias e se afirmam com a mesma determinação. Ambas nos lembram que ancestralidade é força viva, presente em gestos, vozes e narrativas.
“Amina” — rainha e música — conecta passado e presente, memória e ação, mostrando que herança não é apenas lembrança, mas inspiração para existir, liderar e ocupar o mundo de maneira consciente e empoderada.




