
Heresia do
Djonga
Por Isabela Rodrigues
Publicado em 22 de Agosto de 2025
Lançado em 13 de março de 2017, o disco Heresia marca a estreia de Djonga no rap nacional se tornando uma obra-chave da virada do rap mineiro para o centro do debate nacional.
E tudo isso devido ao manifesto que confronta a regra ‘’padrão’’ e reivindica lugar para a voz periférica negra na música brasileira.
O próprio título já enuncia a intenção: violar o sagrado das estruturas estabelecidas do mercado, da crítica e da moral para afirmar experiência, identidade e ambição.
Sobre a Capa
A capa logo de cara nós entrega o gesto estético e político do projeto. Djonga refaz a icônica fotografia de Clube da Esquina (1972), reformulando a obra de Milton Nascimento e Lô para uma nova geração.
Criando assim um repertório imersivo e atrevido para prestigiar e dialogar com os excluídos da sociedade, centros urbanos, educação e cultura ao reposicionar o corpo preto jovem no trono simbólico da música brasileira.


Um pouco do Álbum
Musicalmente, o álbum opera com beats secos, samples contidos e diálogos com o jazz, criando um chão uniforme onde as rimas correm como uma avalanche. Esse desenho sonoro dá ênfase à palavra: as bases funcionam como caixa cênica para que a performance de Djonga ocupe o centro, oscilando entre fúria, ironia e confissão.
O resultado é um rap direto, sem muitos ornamentos, algo que soe a urgência tanto do serviço quanto a entrega da mensagem.
Nas letras, o que conduz a direção é a afirmação negra e as denúncias das tramas de classe e raça no Brasil. Revelando cicatrizes e marcas do racismo institucional, inclusive pela a polícia e estado.
A “heresia” aqui é exigência de que o rap permaneça em um espaço público de disputa, ao invés das vitrines de acomodação. Politizando o íntimo e personalizando o político ao falar de dinheiro, desejo, violência e fé sem pedir licença.

As referências internas do álbum reforçam essa arquitetura.
Em “Santa Ceia”, a imagética bíblica da última ceia vira metáfora de lealdade e traição na caminhada, conectando a periferia e o sagrado.
‘’Geminiano” brinca com o signo para tematizar a dualidade e contradição.
No centro do repertório, “O Mundo é Nosso” (com BK’) assume tom de hino: mais que
bravata, é projeto de poder coletivo — ocupar, nomear e dirigir o próprio futuro.
Final
Em termos de ideologia e mensagem, “Heresia” formula três frentes claras:
(1) orgulho e emancipação negra, com ênfase em protagonismo e mobilidade;
(2) crítica social direta, que expõe a engrenagem do racismo e do classismo no cotidiano;
(3) reconfiguração de modelos, quando Djonga se coloca na mesma prateleira de grandes mitos mineiros — não por vaidade, mas por estratégia de ocupação simbólica.
Da capa às faixas, a obra responde a uma pergunta central: como romper com o “lugar permitido” sem perder a raiz?
A resposta de Djonga é herética porque recusa mediação elepublicamente se autoriza.




