
Nem bronze, nem ouro:
Prata, Febem
Por Carol Almeida
Publicado em 04 de Outubro de 2025
Em 2017, Febem lançava Prata, pelo ex-selo, Ceia Ent. O EP de sete faixas e pouco mais de 20 minutos, surge como ponto de maturidade em sua carreira, refletindo não apenas sua evolução artística, mas também pessoal.
Conhecido pelas rimas que traduzem vivências, nesse projeto, o rapper revisita esse espaço com um olhar atravessado por novas responsabilidades, sobretudo a de ser pai.
O título do projeto já entrega parte desta proposta. Se ouro é o sinônimo da glória e o bronze remete à disputa, o Prata se coloca em um espaço de resistência e continuidade. Não é sobre consagração imediata, mas sobre a construção que se mantém firme, mesmo diante das dificuldades
“O nome tem a ver com tudo o que vivi, com não desistir e seguir firme. Não é ouro, nem bronze, é prata”
comenta Febem em entrevista ao Rap TV.

O projeto
O EP traz faixas que transitam entre fé, luta, amor, imposição e paz. Mas também é marcado por uma virada íntima na vida do rapper: a chegada de sua filha, Liz, cuja presença aparece logo na abertura em "Mundo”.
A canção não é apenas uma dedicatória, mas um aprendizado traduzido em música.
“Às vezes você compra um brinquedo de R$100 e ela prefere uma garrafa pet. A gente vive uma época em que todo mundo passa uma semana em uma fila para comprar um tênis, só que minha filha me ajudou a enxergar os dois lados da moeda”, contou na dissecação do disco.
Esse olhar atravessa outras faixas. Em “Rosas”, Febem fala de morte e renascimento, relacionando o ciclo ao processo de se tornar pai e de passar a enxergar as mulheres com outros olhos.
Já em “Ímpar”, assume o trânsito natural entre rap e funk, reivindicando o gênero como parte de sua formação musical. Há ainda “Houdini”, metáfora para transformar dificuldades em ilusão de facilidade no palco, e “Jorge”, reinterpretação de Jorge da Capadócia como prece de proteção.

Entre as dificuldades e as conquistas, Febem reconhece que a paternidade transformou sua forma de olhar para vida e, consequentemente, para a própria música. Em Prata, esse amadurecimento aparece em versos que não abrem mão da crueza da realidade, mas que carregam também a urgência de transmitir algo maior.
Não se trata mais de apenas narrar vivências, mas de pensar o que elas deixam para quem vem depois.
No contexto do rap nacional, esse disco surge como um período de renovação da cena paulistana, quando a Ceia Ent. se consolidava como coletivo. Febem entra como mais uma voz de influência da nova geração, mesmo que sua trajetória já fosse referência desde o ZRM, esse trabalho afirma sua individualidade. O resultado é um EP de afirmação: um autorretrato que mistura dureza e afeto, denúncia e esperança, resistência e cotidiano.

No fim, Prata é sobre encontrar grandeza no que parece simples. Não se trata de zona de conforto, mas de um estado de consciência: valorizar a saúde, a família, os amigos e o básico garantido, transformando isso em ponto de partida para seguir no jogo.
Entre as dificuldades e as conquistas, Febem reconhece o caminho percorrido e firma sua identidade no rap, não como quem busca medalhas, mas com quem entende o peso real de estar em movimento.




